Biografia não autorizada de Walter Sullivan - CAPÍTULOS XV, XVI E XVII

Capítulo XV: Novo mundo

"Sim, SIM! Finalmente eu os tenho! Os 10 corações são meus! Agora tudo será mais fácil... Poderei rever minha mãe em breve... Sim, agora só tenho que finalizar o ritual..."

Colocou no cálice negro o óleo branco de Valtiel e, em volta destes, os 10 corações, formando um círculo. Curiosamente, linhas de sangue exatamente retas escorreram dos órgãos e ligaram-se ao cálice. Walter murmurou algumas palavras em uma língua estranha, provavelmente a língua falada pelos sacerdotes de Valtiel. O óleo começou a brilhar. O cálice emana um calor impressionante. Os 10 corações começaram a secar, perdendo todo o sangue.

Walter sentia uma energia estranha passando pelo seu corpo. Fechou os olhos e sentiu que começava a levitar. O cálice começou a vibrar e continuou, cada vez mais forte. Os corações já estavam irreconhecíveis, semelhantes a pedaços de carvão. O óleo brilhava como a uma lâmpada. Walter sentia que levitava cada vez mais alto. Abriu então os olhos e viu, no chão, seu próprio corpo. Estava sentado com as pernas cruzadas, a cabeça olhando para cima. A boca estava aberta, com um fio de saliva escorrendo ao canto, e o olhos estavam revirados, como em uma convulsão.

Walter ficou deslumbrado com o que viu. Até que, de repente, tudo parou. Os corações haviam virado cinzas, o óleo estava cor de sangue e o cálice voltara ao normal. Ouviu, então, o som de sirenes ao longe.

"Está na hora."

* * *

A polícia mal acreditava: Walter Sullivan, o serial-killer que assassinara brutalmente 10 pessoas em 10 dias finalmente seria preso! O endereço abandonado junto ao corpo da última vítima levava aos apartamentos de South Ashfield Heights, em especial o quarto 302. A mobilização policial para a captura do assassino foi imensa, incluindo desde viaturas comuns de patrulha até carros blindados e helicópteros.

Cerca de 50 policiais fortemente armados adentraram o prédio. Com todo um plano tático em mente, invadiram o 302. Porém, o que viram ao entrar, diferia muito da imagem de serial-killer que estavam acostumados a ver. Ali encontrava-se apenas um jovem de cabelos claros, alto, magro, vestido com um sobretudo acinzentado. Estava com os olhos arregalados, rindo como um louco, rolando sobre cinzas uma poça de sangue derramado de um cálice. Ao ver os policiais, ri com mais vontade ainda.

-Capitão... tem certeza que esse é o assassino Walter Sullivan??

-Bem, a descrição física que obtivemos é compatível. Só pode ser ele.

Três soldados levantaram Walter pelos braços e o levaram algemado. O preso ainda ria muito, sem conseguir nem mesmo mover as pernas. O comandante da operação ainda ficou parado no quarto, observando aquela cena bizarra, tentando entender o que acabara de se passar. O que significava tudo aquilo? Como que um louco seria capaz de matar 10 pessoas com tamanha crueldade sem deixar pistas para a polícia? E o que fora feito dos 10 corações? Teriam algo a ver com todo aquele sangue?

-Capitão, o assassino já está no camburão! Está na hora de irmos!

-Certo, certo. Parece que toda essa super-produção foi desnecessária, não é?

-Se me permite capitão, pelo que vimos, apenas uns 5 policiais seriam capazes de cuidar disso.

* * *

No dia seguinte à sua prisão, Walter foi mandado a júri pela morte de 10 pessoas. Como ainda ria, teve que ser sedado e amordaçado. Um defensor fora chamado às pressas.

O julgamento começou expondo todo o histórico de Sullivan. Antes das mortes, nunca teve uma passagem se quer pela polícia. Depois focaram-se as vítimas, suas mortes e possíveis motivos. Walter assistia a tudo, com os olhos fitados no nada. Mesmo amordaçado, era possível ouvir seus risos abafados.

O defensor alegou insanidade mental e sugeriu que a pena fosse cumprida em um sanatório. Porém, a promotoria alegou que um louco não seria capaz de cometer assassinatos tão "variados" e tão "perfeitos".

Após 6 horas de julgamento, Walter foi condenado à prisão perpétua em cela isolada. Não teria direito a nada. Não fora condenado à morte por suas condições mentais.

Sullivan foi mandado para uma penitenciária nas redondezas de Silent Hill. No dia seguinte, seu corpo foi encontrado na cela, com uma colher enfiada no pescoço. Um laudo revelou que a colher havia rompido a carótida do preso.

Era o fim de um assassino. Ou não. Seria o início de um novo mundo.

Capítulo XVI: Novo mundo - II

"Que lugar é esse? Está muito escuro, não vejo nada... Meu corpo não se mexe, parece que estou amarrado... Está muito frio também...

Mas, espera um minuto. Eu não morri? E esse lugar... mesmo escuro me parece familiar... Estranhamente aconchegante... Mãe, é você? Eu consegui te trazer de volta, mãe? Mãe, você não sabe como eu esperei por esse momento... Mãe, fale comigo, por favor... Mãe..."

-SILÊNCIO!

Uma pequena chama surgiu ao fundo. E começou a se mover, como que fazendo um desenho. Logo, a parede estava marcada com o símbolo de Valtiel. O fogo iluminou o recinto: era o quarto 302 e Walter estava amarrado a uma cruz, com a mesma roupa com que fora preso e uma ferida grotesca no pescoço.

-Essa voz... já ouvi essa voz muitas vezes em meus sonhos... Valtiel, é você não é?Me diga, onde está minha mãe? Eu consegui, reuni os 10 corações e...

-JÁ DISSE PARA FAZER SILÊNCIO!

Pela primeira vez o assassino parecia temer algo. Seu silêncio foi tal que podia-se ouvir o estalar das chamas de Valtiel.

-Você ainda não terminou sua missão, Sullivan. O que você conseguiu foi se desligar das limitações da vida. Agora você está em outro nível. Você pode criar seu próprio mundo. Um mundo onde você é o deus. Onde você tem o poder de controlar tudo o que acontece.

-A...

-AINDA NÃO TERMINEI! - Rugiu uma voz que amedrontaria o mais corajoso dos homens. - Eu disse que você tem o poder. Mas você ainda não manifestou-o. Ainda está preso à carcaça que foi enterrada no cemitério de Wish House. VAMOS! MOSTRE QUE TEM O QUE É PRECISO PARA TRAZER A MÃO DE VOLTA!

Ditas essas palavras, as chamas explodiram em direção a Walter. Cada milímetro de pele, cada gota de sangue estava em chamas. Urrando de dor, Walter tentou se soltar. Após um esforço desigual, soltou-se da cruz e desabou no chão.
Walter se levantou, ofegante. O quarto estava totalmente iluminado. Olhou si e, para seu espanto, não havia sinal de queimaduras. Muito menos sinal da ferida no pescoço. Virou-se para trás e espantou-se mais ainda com o que viu: seu próprio corpo, inerte, preso na cruz.

"Não espera menos de você, Sullivan. Sua determinação em cumprir seu destino é impressionante." - Disse a voz de Valtiel dentro de Walter.

"Agora esse é seu mundo. Aqui tudo funcionará de acordo com suas regras. Todas as lembranças que você tem guardadas dentro de si serão os alicerces para esse lugar. Aqueles que tiveram os pecados redimidos por você serão seu exército. Você poderá vagar livremente pelo seu mundo e pelo mundo real. Porém, será visto apenas por aqueles que deverão ter alguma relação com a Mãe Sagrada."

Walter estava estático, encarando seu próprio cadáver. Então, ouviu um gemido agourento, que parecia vir de todos os lugares. Percebeu que uma mancha negra se espalhava pela parede. De repente uma mão surgiu em meio àquela mancha. Parecia estar fazendo um esforço tremendo para sair dali. Quando a criatura mostrou seu rosto, Sullivan teve novo assombro: era o padre Jimmy. Ao encarar seu algoz, o fantasma deu um grito e desapareceu novamente na parede.

Um Walter ainda confuso saiu do quarto. O edifício estava irreconhecível: as paredes tinham uma aparência estranha, como se estivessem cobertas de sangue e carne humana. Continuou caminhando, até que viu um garotinho sentado, com o rosto entre os joelhos. Aproximou-se e afastou-se, mais espantado do que nunca: o garotinho era o próprio Walter, com 10 anos de idade!
O garotinho pareceu nem perceber ou se importar com a presença do seu "eu" mais velho. Apenas levantou-se e caminhou lentamente pelo corredor. Após se recuperar do choque, resolveu seguir a criança. Viu que o pequeno havia entrado na primeira porta à direita. Seguiu-o, mas tudo o que encontrou foi um imenso buraco na parede. Sem hesitar muito, entrou.

Após engatinhar por um caminho que parecia interminável, viu uma luz. Ao sair, percebeu que estava na floresta de Silent Hill, próximo ao orfanato Wish House. Porém, o local também estava com uma aparência mais macabra do que o real.

Começava a entender a palavras de Valtiel. "Suas memórias serão os alicerces." Tudo aquilo era uma reprodução de como seu cérebro e seu coração lembravam-se do doloroso passado. Encontrou outros buracos semelhantes ao primeiro pelo caminho, e cada um deles levava a um local que marcou sua vida: o metrô onde presenciara a felicidade de ter uma mãe, as ruas onde cometeu a maioria dos assassinatos, a prisão subterrânea, até mesmo o hospital onde ficara internado entre a vida e a morte quando bebê.

Finalmente tinha noção de seus poderes. Finalmente compreendera o que poderia fazer com tudo isso... Agora ficara mais fácil de trazer sua mãe de volta.

Os olhos de Walter brilharam novamente com o fogo da morte. Adentrou em um dos tantos buracos e, dessa vez, foi para o mundo real, em Ashfiled. Dezenas de pessoas passavam, mas ninguém percebia a presença de Sullivan. Mas tudo estava diferente. Quanto tempo se passara desde sua "morte"?
Capítulo XVII - O Retorno
Walter aproveitou seu retorno ao mundo real para refletir sobre sua situação. A primeira parte do Ritual da Mãe Sagrada já fora concluída. Os dez corações já haviam sido oferecidos e ele já possuía poderes sobre-humanos. Pelo que percebia, não passava de um fantasma no meio da multidão: pessoas passavam por ele sem dar atenção, sem perceber que estava efetivamente lá. Sem contar que tudo parecia diferente... Era como se tivesse passado muito mais tempo nesse mundo do que no mundo alternativo. Parou em frente a uma padaria, em cuja porta havia um calendário: passaram-se dez ano desde a suposta morte de Walter.

Continuou a andar por Ashfield, até chegar em frente ao edifício onde sua mãe estava presa. Apena lá o tempo parecia não ter passado... Tudo estava exatamente como antes da morte de Sullivan. Tudo bem, as pessoas envelheceram um pouco... Mas sua mãe ainda estava lá, esperando pela conclusão dos 21 Sacramentos.

Mas ainda havia algo que não estava se encaixando. Se ninguém podia vê-lo, ouví-lo ou senti-lo, como daria continuidade ao ritual? Como sacrificaria as vítimas? Será que precisaria levá-las para o mundo alternativo? Mas como faria isso?

Enquanto absorto em seus pensamentos, percebeu algo de estranho: um rapaz usando um gorro marrom, fumando escondido em um beco escuro, encarava-o fixamente. Mas... como? Levantou-se e caminhou calmamente em direção ao rapaz. Porém, Sullivan mal começara a atravessar a rua e o jovem saiu correndo, como que desesperado. Então realmente estava vendo-o.

Sim, agora tudo fazia sentido.
Tenha bons sonhos, se puder...

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