Número desconhecido
"MEU DEUS!", eu gritei ao ser acordado
de surpresa pelo meu novo toque de halloween do celular. Não me
lembrava de ter mudado o toque mais cedo, então levei um susto até me
lembrar de onde ou o que era. Levei um tempo para encontrá-lo preso no
meio das almofadas do sofá. O fato da luz baixa da estática na tv ser a
única luz não ajudou muito na busca.
Atendi e não ouvi nada do outro lado.
Para ser honesto, eu esperava uma respiração desesperada ou qualquer
outra coisa assim do outro lado da linha, pelo fato de eu ainda estar um
pouco assustado, mas não havia nenhum barulho.
Desliguei, respirei fundo e franzi o
cenho. Talvez eu só liguei uma chamada falsa sem perceber. Como a
maioria dos telefones, julguei que esse também tivesse essa função, mas
como não o conhecia direito ainda...
Meu pai comprou um usado essa semana,
quando perdi meu outro na viagem até aqui, pra esse fim de mundo.
Procurei no menu mas não achei essa opção.
Xinguei e decidi assistir tv ao invés
de ficar pensando muito. Tentei usar a luz do celular para achar o
controle remoto, sem muito sucesso. Morrendo de preguiça, me arrastei do
sofá para a parede até o interruptor. Dei uma leve pausa no caminho ao
perceber que a tv era dos canais de satélite, e agora estava com
estática de antena. Ignorei e segui, ligando a luz.
A luz intensa me cegou por uns
segundos, respirei fundo de novo e percebi como estava tenso por nada.
Era estranho ficar sozinho em casa.
Meus pais haviam saído de noite e eu
preferi ficar, assim como havia feito durante o dia. Como eles nunca
saíam, era uma situação diferente. Nada além de mato nesse fim de mundo
em que estávamos, então com eles saindo eu tinha solidão total.
Continuei procurando pelo controle
pelo sofá. Fui em um braço, no outro, e me abaixei para por a mão em
baixo dele, fatalmente encostando meu ouvido no celular que estava ali
em cima. Obviamente, o celular tocou, bem dentro do meu ouvido.
"PUTA QUE PARIU!", foi minha reação. Atendi, e mais uma vez, só silencio. Em fúria e xingando, joguei o celular no sofá.
"PUTA QUE PARIU!", foi minha reação. Atendi, e mais uma vez, só silencio. Em fúria e xingando, joguei o celular no sofá.
POP! A lâmpada da sala explode e a
estática da televisão vira aquela preto com um chiado e um risco branco
no canto esquerdo. Penumbra reina. Corri, peguei meu celular, me joguei
na cama e me enrolei em posição fetal após momentos de escuridão
terrível. Com o pouco de luz que conseguia através da tela do meu
celular, já me senti mais seguro. Respirei até me acalmar e decidi ligar
para meu pai. Olhando para a tela do celular, descobri que não havia
desligado a última chamada. Segurei minha respiração quando notei que
conhecia o número que me ligara. Não era desconhecido. Era meu número.
Meu número antigo.
Apertei o botão de encerrar chamada,
desesperado. Comecei a criar mil situações que se desencadeariam
daquelas chamadas. Então algo pior chamou minha atenção. Minha cama já
estava quente.
Mensagem nova. Abri. Li.
"Está de baixo do travesseiro."
Lentamente levantei o travesseiro para encontrar o controle remoto.
De baixo das cobertas ouvi o som da
minha porta do quarto fechar. Suor frio escorreu pela minha testa, meu
coração apertado e minha cabeça explodindo, e então, ouvi a porta de
novo. Sendo trancada.
Tenha bons sonhos, se puder...
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