S.T.A.R.S Home - 4º Dia

4º Dia

O silêncio dominava os ambientes da mansão. Jill estava deitada em sua cama, não havia conseguido dormir durante toda a noite. Ao longe, na sala de jantar, ouviu as badaladas do relógio.
Sete...
Após o final da sétima badalada, silêncio novamente. Aquele lugar estava levando-os a loucura, e ela não conseguia pensar em nada além de Brad. Resolveu se levantar e se dirigir ao hall principal, na esperança de que alguém já estivesse acordado.
Desceu silenciosamente as escadas e viu Rebecca, sentada num canto.
- Becca...- disse ela, se aproximando. Rebecca não a respondeu, apenas chorava. Jill sentou-se do lado dela, segurando em sua mão.
- Tudo está errado... tudo...
- Eu sei...
- Eu não imaginava isso quando entrei pra corporação...
- Eu sei, Becca... nenhum de nós imaginava.
Rebecca tirou a segunda chave do bolso, mostrando-a a Jill.
- Será que... esta vai nos tirar daqui?
- Não sei... a única coisa que sei é que TODOS vamos sair daqui. Juntos.
Jill abraçou Rebecca mais forte, e as duas fecharam os olhos. Juntas, adormeceram.

* * *
 
- Bom dia, senhores. - a voz de Blue King ecoou por toda a casa, alta, fazendo todos acordarem. Rebecca e Jill dormiam no hall quando foram acordadas por ele. - Por favor, dirijam-se todos ao hall principal.
Foram chegando um por um, primeiro Chris, Claire logo após, carregando a espingarda. Wesker e Ada chegaram juntos. Alfred foi o último a chegar, minutos depois, com a expressão muito sonolenta. Mas todos tinham a mesma expressão, de tristeza. Não conseguiam parar de pensar em Brad.
- Imagino que estejam famintos. - seguiu Blue King, sem obter resposta de nenhum deles. - Vamos! Ânimo! Não foi pra isso que eu os trouxe aqui!
Chris somente observava o ambiente quando viu, num canto escuro do hall, uma pequena caixa de som preta, por onde a voz de Blue King ecoava. Antes que qualquer um dos outros pudesse segurá-lo, Chris agarrou uma pequena mesa próxima a escada e a atirou em direção à caixa, derrubando-a no chão, logo em seguida estourando com um estalo.
- Chris! Você está louco? - Claire correu até o irmão, que estava ajoelhado no chão, olhando com raiva para a caixa em chamas.
- Desgraçado! Tente me matar agora! Tente! - disse ele, se levantando e olhando para todos os lados, com os braços abertos, gritando.
- Tinha que ser... - Wesker sorria, somente observando.
- Você... - Chris se levantou dirigindo-se a Wesker a passos largos, com Claire e Jill tentando segurá-lo. - Você está metido nisso, não está?
Wesker já fechava os punhos, Chris também. No tumulto, não perceberam algo que se aproximava.
Somente guiado pelo barulho, andando vagarosamente pelo andar de cima, vinha um Cerberus. Ele pulou, na direção de Chris.
- Cuidado! - gritou Claire, vendo o cão pulando. Chris somente teve tempo para desviar, ainda sendo atingido de raspão no braço por uma mordida. Claire ergueu a espingarda, mas o cachorro avançou nela, fazendo-a desviar e derrubando a espingarda. Jill correu, mas foi mordida na perna. Alfred correu para trás da escada, se escondendo, sem fazer barulho. Então, um tiro se ouviu. Wesker estava com a espingarda na mão, e um fio de fumaça saía do cano. O cachorro jazia no chão, numa poça de sangue. Então, largando a espingarda no chão, foi até Chris, o empurrando e dizendo:
- LÁ FORA, nós somos inimigos! Aqui dentro, somos outra coisa. Estamos juntos nessa! E brigar não vai nos levar a nada. Assim que pusermos o pé do lado de fora dessa porcaria, podemos lutar até você morrer. Certo?! - Wesker estendeu a mão para Chris, que, olhando-o nos olhos, pegou em sua mão.
- Uma trégua? - Chris disse, sem desviar o olhar. Wesker somente fez um movimento afirmativo com a cabeça. Então, os dois largaram as mãos, seguindo cada um para um lado.
- Tsc... Tsc... - a voz de Blue King voltou a ecoar pelo recinto. - Que malvadeza Chris! Você realmente estragou o meu dia. Você sabe quanto custa uma caixa de som dessas? E, além disso, você ainda resolve ficar "amiguinho" do Wesker? Agora que eu estava começando a me divertir com as briguinhas de vocês... - os dois fecharam os punhos, olhando fixamente um para o outro. Wesker somente resmungou.
Mal posso esperar para sair daqui e acabar com a raça desse desgraçado.
- Bem, voltando. Toda vez que causarem algum dano às propriedades da casa, serão punidos, justamente como aconteceu agora.
Alfred voltava de trás da escada, carregando uma mala com uma cruz vermelha desenhada, um kit de primeiros socorros.
- Vejo que nosso amigo ali já encontrou o que eu estava prestes a falar. Cuidem dos ferimentos e depois sigam para a sala de jantar. É tudo.
Rebecca pegou a mala das mãos de Alfred, que estava estático. Abriu-a e foi até Jill, que estava sentada no chão, com a mão no ferimento em sua perna.
- Felizmente, não foi profundo. - disse Rebecca, colocando esparadrapos e fechando o ferimento. Fez a mesma coisa no de Chris, que não disse uma palavra. Tinha a expressão enraivecida fixada em Wesker, que estava sentado na escadaria.
- Temos que ir para a sala de jantar agora. - disse Ada, já abrindo as portas. Todos entraram.

* * *

- Que bom que chegaram. - a voz de Blue King ecoou pela sala de jantar. - Espero que tenham a outra chave em mãos.
- Aqui... - disse Rebecca, retirando-a do bolso e mostrando-a para o nada.
- Ótimo... vocês a usarão para ir até a casa de hóspedes, mas, antes, tem mais algumas coisinhas que ainda quero que façam nesta casa.
Rebecca guardou a chave novamente no bolso, e Blue King continuou falando.
- Como eu já disse, presumo que estejam famintos. - Ninguém havia reparado no que estava em cima da mesa de jantar até aquele momento. Em uma metade, havia uma grande travessa, com uma tampa de prata, também bem grande, escondendo seu conteúdo. Na outra metade, havia um café da manhã suntuoso, com pratos prateados e grandes travessas com frutas e bolos. Assim que viram, já foram se dirigindo até lá, mas foram impedidos pela voz de Blue King.
- Onde pensam que estão indo?
- Você nos mandou comer!- disse Chris, já ficando nervoso.
- Eu não disse, AGORA. Primeiro, quero que executem uma prova.
- Desgraçado... - murmurou Jill. Como se não tivesse escutado, Blue King continuou.
- Próximo à travessa, vocês terão um garfo e uma faca. Jill, quero que você se posicione em frente a eles. Chris e Wesker, posicionem-se ao lado da travessa, sem retirar a tampa.
Os S.T.A.R.S. fizeram como ordenado.
-Vocês dois, retirem a tampa agora.
Chris e Wesker retiraram sem esforço, e um pesado odor de carne podre subiu, tomando conta de todo o ambiente. Pelos rostos de todos, expressões de nojo começaram a surgir, e Alfred fez menção de vomitar. Na travessa aberta, jazia o corpo de Brad, já em estado de decomposição, com poucas moscas voando ao seu redor. Lágrimas começaram a surgir nos olhos de Rebecca e Jill, que, por alguns instantes, haviam conseguido esquecer a horrível imagem de ver seu companheiro Brad morto em sua frente. Agora, a imagem voltava a suas mentes, e às mentes de todos, pior do que já era. O único que não parecia abalado era Wesker, que mantinha sua expressão séria.
- Ótimo, agora, Jill, pegue o garfo e a faca, um em cada mão, e aproxime-se da bandeja.
- Não... você não vai nos fazer isso... - Alfred disse, com a voz trêmula. Ele nunca havia visto nada tão horrível. - Você não seria capaz.
- Seu imbecil, ele não é nosso amigo. É bem provável que ele esteja pensando nisso. - disse Chris, sem olhar para Alfred.
- Alfred, apesar de estar no controle aqui, eu somente consigo ver suas ações e não seus pensamentos. - Blue King disse, irônico. Wesker sorriu, pelo canto da boca.
- Cada um de vocês terá que comer dois pedaços de carne, antes que possam se deliciar com o banquete. Em sua vez, vocês deverão cortar a carne de onde desejarem, mastigar e engolir. Lembrem-se, DUAS vezes. A ordem será pré-ordenada por mim. Primeiro você, Jill.
Lágrimas teimavam em sair dos olhos da moça, com a imagem de Brad em sua frente.
- Não... - ela disse, entre lágrimas. - Não posso...
Através da porta dupla da sala de jantar, eles ouviram um grito. O mesmo grito que haviam ouvido da criatura que matara Brad no dia anterior.
- Ok... - Jill sussurrou.
Então, um estrondo forte foi ouvido do mesmo lugar onde o grito havia sido ouvido antes. Um tiro.
- Tem gente aqui! - Chris gritou, correndo até a porta, e abrindo-a. Não havia nada no hall, nem no andar de cima. A criatura havia simplesmente desaparecido.
- Jill, sua vez. Bom apetite. Estarei observando.
Jill começou a cortar um pequeno pedaço do braço de Brad, retirando-o com o garfo, e ficou o observando. Chris colocou a mão em seu ombro e disse:
- Jill, você consegue. Eu estarei aqui. Você é forte. Vamos...
- Claire, você é a próxima.
Claire não conseguia acreditar no que estava prestes a fazer. Mas, lembrou do seu irmão, e do que aconteceu com ele quando desobedeceu a uma ordem de Blue King. Então, com uma expressão de coragem no rosto, mastigou e engoliu o primeiro pedaço, e depois o segundo, correndo para os cálices logo em seguida. Aquilo era uma coisa que seria apagada da memória dela para sempre. Assim que se recuperou, seu irmão, mas calmo, se dirigiu a ela e a abraçou.
- Você é muito corajosa... - disse ele, tentando acalmá-la, uma calma que nem ele mesmo tinha. Ela somente sorriu para ele, um sorriso forçado.
- Wesker, você é... - Antes que Blue King terminasse, Wesker já estava mastigando seu primeiro pedaço, e o segundo logo em seguida. Ele era como uma máquina, parecia não sentir emoções, pois não demonstrava nojo, nem raiva, ao mastigar um pedaço do pescoço de Brad.
- Alfred, você é o último.
- Não! Não vou permitir isto. Eles são subordinados, mas eu não! Eu sou Alfred Ashford, descendente dos criadores da Umbrella, não vou permitir isto! - e sentou-se em frente ao suculento café da manhã servido numa metade da mesa, e começou a se servir. - Não vou me servir de carne humana!
- Ótimo... faça como quiser... - disse Blue King, com voz de tristeza.
- Será que devemos... - disse Claire, se adiantando, com os olhos brilhando, sendo segurada por Chris.
- É melhor não, até que ele nos ordene a fazer. Lembre-se do que aconteceu da última vez.
Blue King não se pronunciou até que Alfred acabasse de comer, largando os pratos e talheres sujos para o lado da mesa.
- Olhem na terceira folha do mapa de vocês. Quero que dirijam-se para o local marcado em vermelho, no segundo andar.
Pé ante pé, todos saíram da sala de jantar com expressões sérias. Estavam famintos, queriam comida de verdade. Somente Alfred tinha uma expressão satisfeita.

* * *

A sala estava exatamente igual como era antigamente. Paredes de madeira escura, empoeiradas e com teias de aranha nos cantos. O buraco por onde a cobra saíra da outra vez também estava lá, e todos esperavam o pior, quando sons irreconhecíveis começaram a ecoar lá de dentro. De repente, uma horda de Hunters começou a sair do buraco, um a um, sendo recebidos pelas balas da espingarda que Rebecca empunhava. Claire se atirou para o lado e, entre as caixas, encontrou duas espingardas, carregadas. Atirou uma para Chris e ficou com a outra.
- Protejam-se atrás de nós!! - Chris disse para os outros, enquanto ele e Claire se colocavam ao lado de Rebecca e continuavam atirando.
- Atire nos olhos! - gritou Rebecca, quase inaudível, entre os estrondos ensurdecedores dos tiros. A munição de Chris rapidamente se acabou, mas ele havia matado quatro criaturas. Claire tinha somente mais um tiro, e Rebecca dois. Os últimos dois Hunters saíam do buraco e Claire atirou, acertando em cheio o olho esquerdo de um deles, atirando-o para trás, estático. Rebecca atirou, mas errou, e foi atingida na perna pela garra da criatura. Ela soltou a espingarda, que escorregou para perto de Alfred, que fez menção de correr.
A criatura ficou em pé, os olhos fixos no pescoço de Rebecca, arqueou seu corpo para trás e deu um grito estridente, como se contasse vitória sobre seu inimigo. Então, devagar, levantou a garra. Rebecca fechou os olhos.
Vou morrer...
Somente um tiro.. não posso errar...
BAM!
O tiro havia acertado a criatura na nuca, fazendo-a a cair para frente, em cima de Rebecca, morta. O sangue que saia de suas costas escorreu, sujando a roupa de Rebecca, que saiu o mais rápido que pôde dali. Todos olharam, e Alfred estava com a espingarda na mão, tremendo, estático, no outro canto da sala. Claire foi a primeira que se aproximou, acalmando-o. Rebecca o abraçou.
- Obrigado... por ter salvo a minha vida.
Alfred a retribuiu com um sorriso.
Wesker, não parecendo abalado com a cena, olhou para cima e chamou por Blue King.
- Ei, senhor Blue, quando iremos tomar café da manhã, hein?
- Você ainda pensa em café? - ele retornou, com ironia. - São 6:15 da tarde. Enfim... saiam desta sala e dirijam-se para a porta no final do corredor.

* * *

Estavam numa sala de paredes azuis, com um pequeno lustre no teto, três lâmpadas fluorescentes, que iluminavam todo o recinto. Havia uma pequena mesa, e seis cadeiras. Na mesa, pratos individuais com os nomes de cada um dos participantes, e seus pratos favoritos.
- Este é meu prêmio. - disse Blue King, assim que o último entrou e fechou a porta. Claire fez menção de se sentar. - Não, por favor, não sentem ainda, tenho algumas coisas para dizer antes. - Claire, envergonhada, levantou-se novamente.
- Vocês hoje provaram que têm fibra, passaram por testes dificílimos, que alguns não conseguiriam. Esses Hunters também fizeram parte da prova, o que mostra que deixei para lá a desfeita que Alfred me fez, mais cedo. Enfim, os pratos estão com os nomes de cada um de vocês, seus pratos prediletos. Quero que se sentem, na ordem.
Os participantes foram se sentando, e, após todos sentarem, Alfred percebeu que não havia seu nome em nenhum dos pratos e nem mais espaço na mesa.
- Ei... e eu? - ele disse, com uma expressão triste no rosto.
- Querido Alfred... eu não me esqueci de você. - a expressão na voz de Blue King se transformou de um tom satisfeito para um tom irônico. - Você é uma prova viva de que fibra não é nada sem obediência! Apesar de ter salvo a vida de Rebecca, seu desrespeito a mim será punido! - Alfred estava assustado. - Quando tomou aquele café da manhã há horas atrás, junto com os alimentos, você estava ingerindo uma neurotoxina fortíssima, e deve morrer logo!
Como se as palavras de Blue King tivessem a ativado, Alfred começou a engasgar, se escorando na parede, tentando manter-se em pé. Sem sucesso, caiu de lado no chão, e Rebecca correu até ele.
-Ele está entrando em choque! - ela disse para os outros, que a rodeavam. - Não há nada que eu possa fazer!
Alfred continuava se contorcendo, e, depois de alguns segundos, ficou estático. Sua pele começou a ficar esverdeada, um dos efeitos do veneno.
- Droga! - Chris socou a parede!
- Lembre-se Chris, qualquer dano a propriedade será punido! - disse Blue King.
- Ei, desgraçado, porque não vem aqui e nos enfrenta, hein? Por que não mostra seu rosto e nos enfrenta cara a cara?! - Jill gritava para o nada, cheia de raiva, os punhos fechados. Os outros não diziam nada. Ada segurava Alfred, não podia acreditar que ele havia morrido.
-Sem mais conversa. A regra é clara... - Todos olharam abismados com a frieza de Blue King. - Sem mais, bom apetite a todos, boa noite, e até amanhã.
Wesker observava Alfred no chão, morto. Seus pensamentos estavam a mil por hora.
Tenho que dar um jeito de sair daqui. Conseguir acesso à parte de fora e tentar fugir. Não posso morrer aqui. Não. Sou mais forte do que eles. Conseguirei sobreviver. Eu serei o campeão. Eu.
Nenhum dos outros conseguia comer. Wesker sentou-se e começou a comer, como se não ligasse para o corpo de Alfred, ali ao seu lado, com os olhos abertos.Os outros levaram o corpo para fora e se sentaram. Apesar do que haviam passado, a fome era mais forte, e começaram a comer. Não disseram uma palavra durante todo o jantar. Wesker foi o primeiro a acabar, indo dormir logo após. Os outros saíram juntos, Ada por último.
Antes de voltar ao hall, ela observou o corpo de Alfred, estático, e sentiu um calafrio. A sensação de que sabia quem seria o próximo. Resolveu apagar esse pensamento e alcançou os outros na escada. Todos foram dormir, ou ao menos, tentar.

Tenha bons sonhos, se puder...

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